2008-11-12

Quais as resistências intelectuais que enfrenta uma medida como o RB?

O RB, como qualquer proposta de renovação social, tem de superar um bom número de resistências intelectuais.

Uma delas é de natureza ética ou normativa e pode resumir-se nas seguintes perguntas: o RB é justo? Quem não queira trabalhar de forma remunerada no mercado de trabalho tem direito a receber incondicionalmente um rendimento? Outra resistência intelectual é de carácter exclusivamente técnico e questiona a viabilidade da medida: poderá ser uma ideia muito bonita mas não será mais que uma fantasia?

Existe um outro tipo de resistência, que não se pode qualificar propriamente como intelectual, que resulta essencialmente de uma aversão à mudança e da inércia social tendente a a manter o status quo. Para que uma ideia, uma proposta, sejam socialmente aceites, não basta que apareça como justificada ou viável. É requerido um certo consenso social e uma conjunção de interesses que provoque a actuação dos actores sociais no sentido da concretização da proposta. O exemplo paradigmático desta resistência é o do sufrágio universal: surgiram todo o tipo de desculpas e pseudo-razões, desde considerar-se os escravos como coisas, o direito de voto limitado aos proprietários dado serem os únicos que tinham algo a ganhar ou perder com o jogo eleitoral, ou, por último, a argumentação mais aflitiva contra o voto feminino baseada em argumentos peregrinos do mais diverso teor. Todo este argumentário provocou que a aceitação do sufrágio universal tenha sido uma conquista praticamente do sec. XX na maioria dos países do mundo. Não basta pois uma justificação ética ou uma viabilidade teórica. São imprescindíveis maiorias sociais e políticas para superar certas resistências.

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